LAS DEMAS de Fabio Golpe

Sandra y Claudio se casaron pero él se arrepintió y la dejó bailando sola en el medio de la fiesta. Ella entró en shock y las familias comenzaron a pelearse. Ahora el interés está en los regalos, y el amor ya casi es anécdota. Un salón de fiestas, un hombre que regresa desorientado, tres mujeres que son familia y una camarera que sin querer jugará a las coincidencias con la vida de las demás. A todos ellos les falta algo que tiene que ver con el amor pero no saben qué; mientras algunos se ríen para pasarla bien, ellos la sufren y esperan que un flete los saque de ahí.

Nota de la periodista brasilera Mariana Marinho sobre el teatro independiente en Buenos Aires. A partir de su interés por la escena porteña entrevistó a Fabio Golpe, director de "LAS DEMAS"

Buenos Aires em cena

O teatro alternativo da capital argentina vive um período de efervescência criativa
Mariana Marinho
Era por volta das nove e meia da manhã quando um simpático senhor abria as portas de seu kiosco, na altura do número 300 da rua Ayacucho. Um grupo de policias terminava de tomar um cortado -  como os portenhos chamam a pequena dose de café com leite – quando os atores começaram a chegar. Os transeuntes não imaginavam, mas naquele endereço, atrás de todos os alfajores, guloseimas e bugigangas, havia uma sala de ensaio. Pequena e cercada por espelhos, ela era, naquela manhã e em outras tantas, palco para a preparação de Las Demas, peça dirigida pelo jovem dramaturgo Fabio Golpe.
Golpe trazia os longos cabelos lisos presos num coque. Ele, ansioso e enérgico, acompanhava o ensaio sentado numa cadeira com o texto na mão, se levantando apenas para fazer pequenas correções na interpretação dos atores. Utilizando-se do humor e da ironia, Las Demás, que estreia em setembro no Teatro Tadrón, propõe um mergulho no drama amoroso das personagens, que parecem ter saído de um filme de Almodóvar.
Com o desenrolar do ensaio, mal se sentia o cheiro do pó impregnado nas cortinas roxas que cobriam a grande janela. Mal se ouvia o barulho da rua. Tudo o que se sentia era a sintonia de corpos que, mesmo com todas as dificuldades características da cena independente teatral, como a falta de infraestrutura, carregavam pela sala a paixão pelo teatro.

O dramaturgo Fabio Golpe no ensaio de sua nova peça "Las demas"
A capital do teatro
Buenos Aires está repleta de teatros. Alguns se exibem imponentes pelas ruas, como o Teatro Cólon, outros são mais discretos, como o Timbre 4, localizado em Boedo. Algumas salas se escondem sob as muitas propagandas das peças, outras se escondem atrás de kioscos ou de sua própria pequenez. Aos finais de semana, os teatros da capital argentina chegam a exibir mais de 300 espetáculos e as salas comerciais recebem cerca de 70 mil pessoas.
“A cena teatral em Buenos Aires está muito viva. Isso se deve a algumas razões, mas o principal fator é a importância da tradição teatral da cidade. Temos o circuito estatal, comercial e alternativo. Apenas o estatal vive certa crise. O circuito comercial apresenta uma abundância de teatro de texto e o circuito alternativo goza da proliferação de autores nacionais”, explica o dramaturgo e roteirista Javier Daulte. Um dos grandes nomes do teatro argentino, Daulte transita entre os três circuitos.
Em sua charmosa casa, o dramaturgo, que de 2006 a 2009 foi o diretor artístico do teatro La Villarroel, em Barcelona, trabalha no texto de “Personitas”, sua próxima montagem para a cena independente. “Devemos apenas tomar cuidado para não produzir no circuito comercial um espetáculo que seria mais adequado à cena independente e vice-versa. Comigo aconteceu duas vezes:¿Estás ahí? deveria ter sido apresentada primeiro no teatro comercial e Caperucita no teatro alternativo”, diz.

"¿Estás ahí?", peça de Javier Daulte
Daulte explica que o teatro independente em Buenos Aires não funciona como uma antessala para o teatro comercial. “Ambos os circuitos têm o seu público e o seu espaço, porém, eles estão conectados de alguma forma. É essa conexão que me permite transitar entre os dois. Há um público exclusivo do teatro comercial, outro exclusivo do teatro alternativo e um terceiro público que circula entre os dois. É fundamental que os artistas, o público e a imprensa circulem dessa forma, pois, se isso não acontece, a vivacidade do panorama teatral da cidade pode ser prejudicada”.
Apesar da cena alternativa viver um momento de plena atividade criativa, os dramaturgos e atores travam uma batalha diária para tentar driblar a falta de recursos, os baixos salários e as dificuldades de encontrar salas disponíveis. “Quase não há apoio estatal ou privado. O teatro alternativo é sustentado pelo público que assiste ao espetáculo e paga o ingresso. O interessante seria conseguir mais apoio, até mesmo do Mercosul, expandir o teatro argentino para além das fronteiras”, afirma a bailarina Inés Armas.
Ao lado do marido, o diretor brasileiro Fagner Pavan, Armas coordena a Cia. Móvil, que desde 2006 elabora projetos que envolvem teatro e dança. Em Cuerpo Extranjero, seu mais recente trabalho – que chega em setembro a Sorocaba -, a Cia se propõe a investigar as relações do homem com as coisas materiais. Em cena, uma bailarina, um boneco de trapo e sua manipuladora travam relações de poder entre si.

Em "Cuerpo extranjero", a Cia. Móvil se propõe a investigar as relações do homem com as coisas materiais
Fabio Golpe também considera a falta de apoio um dificultador, assim como a dinâmica para conseguir uma sala. “Há pequenas novas salas destinadas à apresentação de montagens independentes, o que é interessante, já que conseguir que uma sala aceite a sua produção pode ser uma tarefa complicada. Para isso, é necessário ter amigos e contatos. Algumas salas só aceitam determinado tipo de espetáculo”, conta Golpe, que, além do trabalho com a peça Las Demás, se prepara para participar, em agosto, do festival El Porvenir, com a peça La guarra enloquecida.
Há cinco anos, o festival é uma oportunidade de diretores teatrais com menos de trinta anos mostrarem seu trabalho. Serão doze peças apresentadas ao longo do mês. La guarra enloquecida, a quinta peça da carreia de Golpe, conta a história de Carla, uma estudante de teatro que depois de vários testes é selecionada para protagonizar o filme La guarra enloquecida. Porém, a jovem não sabe que se trata de uma produção pornô. “As mulheres sempre são os temas das minhas histórias. Elas têm uma loucura que me fascina. É algo que não encontramos nos homens”, comenta o diretor.
Palcos paulistas e argentinos
Diferentemente do que ocorre no Brasil, onde é necessário pagar o aluguel das salas, na capital argentina,  70% do lucro da bilheteria do espetáculo é destinado ao diretor da peça. O restante fica com dono do espaço. “Esse sistema permite que uma montagem fique mais tempo em cartaz”, opina Inês Armos.
Para o dramaturgo Santiago Serrano, a principal diferença entre a cena teatral portenha e a cena teatral paulista é que em São Paulo predomina o teatro de grupo, enquanto em Buenos Aires os atores e diretores circulam de forma mais independente. “Na Argentina, praticamente não existe o trabalho de grupo, que eu, particularmente, gosto muito. Ele permite que você aprimore o seu trabalho e o trabalho do ator, criando uma estética e uma unidade”, conta Serrano que, além de dramaturgo, é também psicólogo. “São poucos os que conseguem sobreviver apenas com o que ganham com o teatro. É um dinheiro muito incerto”.

Cena de "Dinossauros", peça do dramaturgo Santiago Serrano montada pelo brasileiro Guilherme Reis
Durante dez anos Serrano trabalhou com o grupo Encuentros, com o qual desenvolveu peças que traziam a questão do encontro como tema principal. “Podem ser encontros bons ou ruins. O teatro, em si, é o encontro de um grupo de atores com o público que o assiste. Depois desse encontro, quando a peça termina, muda uma pequena coisa dentro de quem estava no palco e de quem estava na platéia”, explica.
Santiago Serrano tem uma intensa relação com o Brasil. “Me considero um brasileiro infiltrado na Argentina”, confessa. Tudo começou em 2005, quando o diretor brasiliense Guilherme Reis descobriu seu texto Dinossauros na internet e pediu permissão ao dramaturgo para montá-lo. “Eu e Guilherme conversamos bastante sobre o texto. Gostei muitíssimo da adaptação feita por ele”, conta. Em 2007, a companhia Kaus, sob a direção de Reginaldo Nascimento, encenou Revolta, outra peça de Serrano. O dramaturgo escreveu, ainda, a quatro mãos com o ator Eduardo Okamoto, o monólogo Eldorado.”Eu não me considero um dramaturgo argentino. Nelson Rodrigues é um dramaturgo brasileiro, mas sua obra é universal. O teatro deve ser assim: um espaço onde todos têm a mesma nacionalidade”, diz.
Mudança silenciosa
“Quando alguma obra minha está em cartaz no circuito alternativo eu olho para o público e sinto que todos eles poderiam ser meus amigos: se vestem como eu, comem nos mesmos lugares que eu. No circuito comercial, o público é uma incógnita”, comenta Daulte. O dramaturgo entende que o teatro alternativo tende a ser mais erudito e hermético o que restringe, de certa forma, o público que frequenta o circuito.
Golpe concorda com Daulte. “Não sei se todos gostam do teatro independente. Às vezes, sinto que fazemos produções para nós mesmos, que frequentamos o universo teatral. Não acho que a cena independente deva ser muito intelectual. Não digo para colocarmos coisas banais, mas deve ser algo que as pessoas entendam”, acrescenta. Inês Armas acredita que é importante encontrar um equilíbrio. “Não devemos subestimar o público. Você tem que dar a mão para que ele entre. Se for algo muito hermético, fica mais difícil dele entrar. Por isso devemos nos perguntar como fazer para chegar até o outro. Você nunca sabe”, afirma.
Por mais que não haja uma fórmula mágica para chegar até o outro, tampouco uma fórmula rumo ao sucesso, é justamente o fato de tantas vozes continuarem em cena, mesmo com todos os desafios, que faz com que  os palcos de Buenos Aires digam algo diferente para cada um. “Ir ao teatro é uma experiência muito subjetiva. Um acontecimento teatral não tem a ver com o que a imprensa diz sobre ele.Tem a ver com ser algo privado e subjetivo para um espectador em particular. As mudanças que o teatro pode produzir não são espetaculares. Elas são silenciosas”, diz Javier Daulte.

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